A crise econômica fez-se sentir no perfil
do turista que escolheu o litoral de Santa Catarina nesta temporada de
verão. De acordo com a Pesquisa Verão
2017 realizada pela Fecomércio SC e divulgada nesta segunda-feira no Centro de
Eventos do Sesc Cacupé, em Florianópolis, chamou atenção o crescimento
expressivo da participação de turistas catarinenses (28,6%) e gaúchos (27,9%)
em relação aos turistas dos demais centros emissores.
O fluxo turístico oriundo de centros muito
próximos revela uma série de características, com destaque para o gasto menor
em hospedagem, transporte, lazer e compras no comércio se comparado o último
balanço com os gastos do ano passado. As praias catarinenses também receberam
menos visitantes argentinos (10,7%) em razão da desvalorização do dólar e os
efeitos da crise econômica naquele país.
O cenário otimista duante a pré-temporada
não se confirmou. Menos da metade dos empreendedores considerou o movimento
positivo. Como consequência, o setor registrou queda de 14% no faturamento em
relação à temporada anterior. O levantamento da Fecomércio/SC foi realizado em
Florianópolis, Balneário Camboriú, Imbituba, São Francisco do Sul e Laguna.
A pesquisa não aponta uma mudança
significativa no perfil socioeconômico dos turistas. Apenas a presença da
classe D (13%) mais do que dobrou. As demais flutuaram dentro da margem,
levando-se em conta os números de temporadas anteriores.
"A desvalorização do dólar em relação
ao ano anterior pode ter impactado na queda no número de visitantes e no poder
de compra dos países vizinhos, sobretudo da Argentina, Uruguai e Chile,
tradicionalmente responsáveis por uma boa fatia do turismo catarinense",
aponta o presidente da Fecomércio, Bruno Breithaupt.
Problemas em relação à mobilidade,
abastecimento de água e tratamento de esgoto também podem ter frustrado as
classes A e B no verão anterior, destaca o gerente de planejamento da entidade,
Renato Barcellos. A repercussão negativa das águas negras de esgoto do Rio
Papaquara durante a temporada de 2016, em Canasvieiras, ganharam espaços
generosos na imprensa do Mercosul.
"Para as classes mais altas, isso é o
mínimo que se exige. Os problemas recentes acabam tendo influência nesse
segmento. Cabe ao setores público e privado entenderem esses números e
avaliarem qual a melhor maneira de atrair novamente o turista com maior poder
aquisitivo", reforça.
Outro dado relacionado com a origem próxima
dos turistas nesta temporada refletiu na hospedagem. A maioria dos visitantes
na última temporada preferiu ficar em imóveis próprios (16,2%) e alugados ou na
casa de parentes e amigos. Houve retração de cerca de 5% no setor hoteleiro.
Somente três em cada 10 turistas buscaram hospedagem em hotéis e pousadas. Por
outro lado, o tempo médio de permanência aumentou em até três dias no período.
Neste verão, houve maior procura por
hospedagens consideradas modestas. Para o presidente do Sindicato de Hotéis,
Restaurantes, Bares e Similares da Grande Florianópolis, Estanislau Bresolin,
"é mais uma demonstração da perda do poder aquisitivo. Tivemos quase o
mesmo número de pessoas, gastando 30% menos. Quando a economia está estagnada,
o turista nem sempre deixa de viajar, mas procura opções mais baratas. Na
crise, a primeira economia se concentra no lazer", conclui.
O presidente da Santur, Valdir Walendowsky,
chama a atenção para os resultados obtidos na Serra Catarinense e outras
regiões turísticas do Estado. "A Serra catarinense e eventos do calendário
de festas, têm proporcionado balanços positivos ao setor". Wallendowsky
entende que outros fatores vem influenciando o balanço turístico do litoral.
Para o presidente da Santur, "se
avaliarmos nossas cidades litorâneas nos últimos 10 anos, o que de novo
aconteceu para atrair as pessoas? Se o turista não vê algo novo, passa a
procurar outros lugares. A Serra melhorou a lotação porque é uma
novidade", alerta. A declaração do presidente estimulou o debate entre
representantes do trade turístico. Um especialista, que preferiu não se
identificar, concorda em parte com esta avaliação. "Só espero que os
governos melhorem a infraestrutura, a acessibilidade nas praias e as
estratégias de divulgação e promoção turística", pondera.
O presidente da Embratur, Vinícius
Lummertz, debateu os rumos do turismo no Brasil. Lummertz apresentou o novo
modelo de gestão da autarquia. “Estamos no meio de uma verdadeira corrida no
mundo do turismo internacional. Transformar a Embratur em serviço social
autônomo trará mais flexibilidade de ações e proporcionará a busca de recursos
de outras fontes além do orçamento da União", afirma. Segundo ele, para
que a Embratur exerça firmemente o papel de indutor da alavancagem do fluxo
desses turistas estrangeiros em direção ao Brasil, é preciso inovar, como
países próximos têm feito, a exemplo da Argentina, Colômbia e México.