terça-feira, 28 de março de 2017

Hotelaria de SC sente efeitos da crise

A crise econômica fez-se sentir no perfil do turista que escolheu o litoral de Santa Catarina nesta temporada de verão.  De acordo com a Pesquisa Verão 2017 realizada pela Fecomércio SC e divulgada nesta segunda-feira no Centro de Eventos do Sesc Cacupé, em Florianópolis, chamou atenção o crescimento expressivo da participação de turistas catarinenses (28,6%) e gaúchos (27,9%) em relação aos turistas dos demais centros emissores.
O fluxo turístico oriundo de centros muito próximos revela uma série de características, com destaque para o gasto menor em hospedagem, transporte, lazer e compras no comércio se comparado o último balanço com os gastos do ano passado. As praias catarinenses também receberam menos visitantes argentinos (10,7%) em razão da desvalorização do dólar e os efeitos da crise econômica naquele país.
O cenário otimista duante a pré-temporada não se confirmou. Menos da metade dos empreendedores considerou o movimento positivo. Como consequência, o setor registrou queda de 14% no faturamento em relação à temporada anterior. O levantamento da Fecomércio/SC foi realizado em Florianópolis, Balneário Camboriú, Imbituba, São Francisco do Sul e Laguna.
A pesquisa não aponta uma mudança significativa no perfil socioeconômico dos turistas. Apenas a presença da classe D (13%) mais do que dobrou. As demais flutuaram dentro da margem, levando-se em conta os números de temporadas anteriores.
"A desvalorização do dólar em relação ao ano anterior pode ter impactado na queda no número de visitantes e no poder de compra dos países vizinhos, sobretudo da Argentina, Uruguai e Chile, tradicionalmente responsáveis por uma boa fatia do turismo catarinense", aponta o presidente da Fecomércio, Bruno Breithaupt.
Problemas em relação à mobilidade, abastecimento de água e tratamento de esgoto também podem ter frustrado as classes A e B no verão anterior, destaca o gerente de planejamento da entidade, Renato Barcellos. A repercussão negativa das águas negras de esgoto do Rio Papaquara durante a temporada de 2016, em Canasvieiras, ganharam espaços generosos na imprensa do Mercosul. 
"Para as classes mais altas, isso é o mínimo que se exige. Os problemas recentes acabam tendo influência nesse segmento. Cabe ao setores público e privado entenderem esses números e avaliarem qual a melhor maneira de atrair novamente o turista com maior poder aquisitivo", reforça.
Outro dado relacionado com a origem próxima dos turistas nesta temporada refletiu na hospedagem. A maioria dos visitantes na última temporada preferiu ficar em imóveis próprios (16,2%) e alugados ou na casa de parentes e amigos. Houve retração de cerca de 5% no setor hoteleiro. Somente três em cada 10 turistas buscaram hospedagem em hotéis e pousadas. Por outro lado, o tempo médio de permanência aumentou em até três dias no período.
Neste verão, houve maior procura por hospedagens consideradas modestas. Para o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Grande Florianópolis, Estanislau Bresolin, "é mais uma demonstração da perda do poder aquisitivo. Tivemos quase o mesmo número de pessoas, gastando 30% menos. Quando a economia está estagnada, o turista nem sempre deixa de viajar, mas procura opções mais baratas. Na crise, a primeira economia se concentra no lazer", conclui. 
O presidente da Santur, Valdir Walendowsky, chama a atenção para os resultados obtidos na Serra Catarinense e outras regiões turísticas do Estado. "A Serra catarinense e eventos do calendário de festas, têm proporcionado balanços positivos ao setor". Wallendowsky entende que outros fatores vem influenciando o balanço turístico do litoral.
Para o presidente da Santur, "se avaliarmos nossas cidades litorâneas nos últimos 10 anos, o que de novo aconteceu para atrair as pessoas? Se o turista não vê algo novo, passa a procurar outros lugares. A Serra melhorou a lotação porque é uma novidade", alerta. A declaração do presidente estimulou o debate entre representantes do trade turístico. Um especialista, que preferiu não se identificar, concorda em parte com esta avaliação. "Só espero que os governos melhorem a infraestrutura, a acessibilidade nas praias e as estratégias de divulgação e promoção turística", pondera.
O presidente da Embratur, Vinícius Lummertz, debateu os rumos do turismo no Brasil. Lummertz apresentou o novo modelo de gestão da autarquia. “Estamos no meio de uma verdadeira corrida no mundo do turismo internacional. Transformar a Embratur em serviço social autônomo trará mais flexibilidade de ações e proporcionará a busca de recursos de outras fontes além do orçamento da União", afirma. Segundo ele, para que a Embratur exerça firmemente o papel de indutor da alavancagem do fluxo desses turistas estrangeiros em direção ao Brasil, é preciso inovar, como países próximos têm feito, a exemplo da Argentina, Colômbia e México.


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